Literatura Brasileira Contemporânea: Contexto Histórico, Principais Autores e Obras
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- Publicado: 04/10/2018
- Atualizado: 24/01/2019: 13 43
- Por: Rafaela Cortes
A literatura contemporânea no Brasil desenvolveu-se nas últimas décadas e até hoje está presente no dia a dia. Com certeza, você já leu alguns livros desse período!
Veja, abaixo, informações completas sobre o contexto histórico, quais são os nomes mais marcantes e suas principais obras.
Contexto histórico
O Brasil viveu o desenvolvimento tecnológico há poucas décadas, causando impactos tanto na indústria, quanto política e na sociedade. Nos anos 60 – enquanto J.K. governava -, aconteceram vários reflexos na sociedade disso, vide a bossa nova, o cinema novo, o teatro de Arena, as vanguardas, o movimento da Tropicália e o surgimento da televisão.
Porém, com a crise causada pela renúncia de Jânio Quadros e o golpe militar que depôs João Goulart do poder, o momento de felicidade do país deu origem ao de descontentamento, provocado pela censura e sensação de medo constante, principalmente pelo fechamento do Congresso, pelos vários jornais sendo calados, pela perseguição, pela tortura e pelo exílio de intelectuais, políticos e artistas.
É nesse momento que a cultura precisou encontrar formas diferentes de se expressar, mesmo que por baixo dos panos. Esse também foi o período em que o Brasil conquistou a sua terceira vitória na Copa do Mundo, sendo utilizada como motivo nacionalista, silenciando a população por um tempo. É nesse momento que surge o ditado “Brasil – ame-o ou deixe-o”.
No final dos anos 70, o presidente Figueiredo sanciona a Lei da Anistia, permitindo a volta dos exilados para o território nacional. Isso desperta o sentimento de otimismo para aqueles que estavam descontentes com o regime militar da época.
A ditadura militar, por sua vez, acaba em 1985, e o movimento Diretas Já! ganha força em 1989, tendo Fernando Collor de Mello como o novo presidente do Brasil, posteriormente deposto 2 anos depois.
Literatura brasileira contemporânea: características
No geral, a literatura contemporânea procura:
- Diminuição das fronteiras entre a arte popular e a erudita;
- Intertextualidade;
- Vários estilos de narrativa;
- Preocupação com o presente;
- Temas cotidianos;
- Metalinguagem;
- Engajamento social;
- Novas técnicas de escrita e arte;
- Produção de contos e crônicas.
A literatura contemporânea é divida em duas linhas principais:
Tradicional
Autores já consagrados ganham mais destaque ainda, como João Cabral e Drummond, além do destaque para novos artistas, como Dalton Trevisan e Lygia Telles.
Esses tinham como linha de escrita o tradicional: regionalismo, intimismo, introspecção e psicológico.
Alternativo
Porém, havia ainda aqueles que queriam romper com o tradicional, trazendo novos estilos ou novas maneiras de exprimir a arte, principalmente na poesia, na qual os sentimentos que há muito tempo ficaram oprimidos pela Ditadura ganham espaço, por exemplo:
- Concretismo;
- Poema processo;
- Poesia social;
- Poesia marginal.
Concretismo
Idealizado pelos irmãos Haroldo e Augusto de Campos e Décio Pignatari, esse movimento começou na revista “Noisgrandes”, porém ganhou destaque somente na Exposição Nacional da Arte Concreta em São Paulo.
No geral, esse tipo de poesia não possui uma forma e nem versos, fugindo do lirismo, como se o poema estivesse sendo feito em uma tela, podendo ser lido em qualquer direção. Veja um exemplo, abaixo, para compreender melhor:
Poesia Processo
No ano de 1964, Décio Pignatari e Luiz Ângelo Pinto criaram o poema código ou semiótico, geralmente visual, como se fosse um poema dadaísta, veja exemplo, abaixo:
Poesia Social
O nome mais conhecido desse tipo de poesia é Ferreira Gullar, que no ano de 1964 sai fora do padrão da poesia concreta e de forma lírica, impondo o verso com temas de interesse social, principalmente relacionados à Guerra Fria, Corrida Atômica, Neocapitalismo e mais.
Porém, depois do golpe militar, ela é considerada uma poesia de resistência, tendo grandes nomes, como Thiago de Mello, Affonso Romano de Sant’Ana, Chico Buarque e muito mais.
Poesia Marginal
Um exemplo da contracultura no Brasil, durante os tempos “negros” da Ditadura Militar, a poesia marginal vinha com o intuito de expressar a violência diária e ir contra o conservadorismo da época.
São marcadas principalmente por ironia, sarcasmo, gírias e humor. Os grandes nomes do movimento são Paulo Leminski, Torquato Neto, Chacal e Ana Cristina Cesar.
Prosa na literatura contemporânea
Há vários tipos no Brasil que ganham destaque:
Romance regionalista
Com uma pegada ainda consequente do Romantismo, muitos escritores comentam sobre as zonas rurais e os problemas relacionados. Alguns dos principais escritores e suas obras são:
- Mário Palmério – Vila dos Confins;
- José Cândido de Carvalho – O Coronel e o Lobisomem;
- Antônio Callado – Quarup;
- Herberto Sales – Além dos Maribus.
Romance intimista
Com linha mais de sondagem do ser humano, os autores têm uma pegada mais angustiada, com traumas e vários problemas psicológicos que envolvem tanto o campo espiritual, quanto moral e metafísico. Os principais nomes desse estilo são:
- Lydia Fagundes Telles – Ciranda de Pedra;
- Autran Dourado – Ópera dos Mortos;
- Lya Luft – Reunião de Família;
- Fernando Sabino – O Encontro Marcado;
- Chico Buarque – Estorvo.
Romance urbano/social
Mostra os centros urbanos e seus problemas relacionados à burguesia, luta do proletariado, violência urbana, solidão e muito mais. Os principais nomes são:
- José Conde – Um Ramo Para Luísa;
- Carlos Heitor Cony – O Ventre;
- Dalton Trevisan – Cemitério de Elefantes.
Romance político
Depois do fim da Ditadura Militar, vários romances surgiram como forma de expressão de tudo que se passou e ficou sufocado. Esse tipo de literatura possui algumas classes variadas, como:
Paródia histórica com nomes como Ariano Suassuna, com A Pedra do Reino, e João Ubaldo Ribeiro, com Sargento Getúlio.
Também, o romance reportagem surge, usando a linguagem jornalística para explanar os relatos de tortura, como uma voz de denúncia e protesto. Os grandes nomes são:
- Ignácio de Loyola Brandão – Zero, não Verás País Nenhum;
- Roberto Drummond – Sangue de Coca-Cola;
- Rubem Fonseca – O Caso Morel.
O romance policial também ganha destaque com a narrativa urbana, com autores como Marcelo Rubens Paiva, com Bala na Agulha, e Rubens Fonseca, com A Grande Arte.
O romance histórico também traz à tona histórias com características policiais e políticas. Grandes nomes dessa forma de protesto são Ana Miranda, com Boca do Inferno, Fernando Morais, com Olga, e Rubem Fonseca, com Agosto.
Ainda, surge o Realismo fantástico ou Surrealismo, no qual alguns escritores tratam da situação do Brasil de modo metafórico, como Murilo Rubião, com O Pirotécnico Zacarias, J. J. Veiga, com A Hora dos Ruminantes, e Érico Veríssimo, com Incidente em Antares.
Romance memorialista/autobiográfico
Um estilo que ganha força durante os anos 80, misturando-se à autobiografia e às reflexões intelectuais de quem viveu no exílio ou sofreu com torturas durante o Regime Militar. Os nomes mais marcantes são Fernando Gabeira, com O que é isso, Companheiro?, Marcelo Rubens Paiva, com Feliz Ano Velho, e Érico Veríssimo, com Solo de Clarineta I e II.
Romance experimental e metalinguístico
Marcado pela sua estrutura fragmentada e diferente, há nomes marcantes como Osman Lins, com Avalovara, Ignácio de Loyola Brandão, com Zero, e Ivan Ângelo, com A Festa.
Contos e Crônicas
Nos anos 70, os contos e as crônicas ganham o mundo pela narrativa mais simples e curta, atendendo à necessidade dos leitores que buscavam algo mais rápido de ser consumido.
Esse tipo de literatura é marcado por sequência anormal, relato pessoal, vários flashes, mistura entre poesia e prosa, além de aparecimento de estados emocionais com frequência.
Os nomes mais marcantes são: Dalton Trevisan, Hilda Hist, Luís Vilela, Marcelo Rubens Paiva, Domingos Pellegrini JR., Vinícius de Moraes, Rachel de Queiroz, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino, Luís Fernando Veríssimo, além de muitos outros.
Outros estilos
A literatura contemporânea também deu abertura a outros tipos de literatura que envolvem multimodalidades, ou variadas formas composicionais, como é o caso de Valêncio Xavier e seu livro Mez da Grippe, no qual o autor narra uma história, valendo-se de vários gêneros textuais para compor o livro, como notícias, entrevistas, poesias e propagandas.
A literatura produzida por povos quilombolas e indígenas também ganha destaque, como é o caso de Daniel Munduruku, com Coisas de Índio, e Kaka Werá Jecupé, com A terra dos mil povos, que revelam outras formas de literatura que já existiam antes mesmo da colonização no Brasil.
Carolina de Jesus também inova no cenário literário brasileiro com Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada lançado em 1960. O livro abre espaço para a literatura feminista.