Ortoépia – O que é? Diferença de Prosódia, Importância
Está com dúvidas nas aulas de português para entender o que é ortoépia? Confira, aqui no Gestão Educacional, todas as informações completas!
- Publicado: 16/04/2019
- Atualizado: 16/04/2019: 13 39
- Por: Alexandre Peres
As palavras são formadas a partir da junção de morfemas, que por sua vez são combinações de fonemas. As grandes áreas que estudam os fones e fonemas de uma língua são, respectivamente, a fonética e a fonologia.
Porém, há áreas menores, dentro dessas grandes áreas, responsáveis por estudar os vários aspectos relacionados à pronuncia das palavras. Uma dessas áreas menores, que veremos neste artigo, é a ortoépia.
O que é ortoépia?
A ortoépia é uma área da linguística, relacionada à fonética e à fonologia, responsável pelo estudo e pela sistematização de regras relacionadas à articulação e à pronúncia dos grupos fônicos de uma língua, ou seja, das palavras.
É ela a responsável por se preocupar com a emissão das vogais e das consoantes, a articulação entre ambas, etc.
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A origem do nome ajuda a compreender o objetivo dela: de origem grega, o termo deriva de orthós, cujo significado é “reto”, “direto”, em conjunto com “épos”, que significa palavra.
Qual a diferença entre ortoépia e prosódia?
Como vimos, a ortoépia é a responsável pelo estudo da pronúncia correta das palavras. A prosódia, por sua vez, é a ciência responsável pelo estudo da correta acentuação e entonação da pronúncia dos fonemas, preocupando-se com questões como a posição da sílaba tônica nos vocábulos.
Qual a importância da ortoépia?
A ortoépia é de suma importância para acompanhar e permitir a evolução de uma língua. Isso porque é ela a responsável por sistematizar a pronúncia das palavras, perceber alterações na pronúncia delas e incorporar essas alterações no conjunto de regras de uma língua.
A importância de haver uma área responsável por sistematizar os vários aspectos de uma língua é simples: se cada pessoa falasse à sua maneira, chegaria um momento em que ninguém mais se entenderia, pois cada falante teria seu próprio sistema de regras. Esse papel de sistematização é desempenhado, num nível maior, pela gramática.
Mas, a ortoépia também é responsável, como comentado, por perceber alterações na pronúncia de vocábulos, observando o uso concreto da língua pelo falante, em contextos reais de comunicação. Acompanhar essas mudanças ajuda a perceber, compreender e direcionar as mudanças da língua.
Erros ortográficos x erros ortoépicos (cacoépia)
Ambos são considerados erros de linguagem, mas cada um à sua maneira. Os erros ortográficos dizem respeito à ortografia e consistem em desvios da norma padrão na escrita dos vocábulos. É, por exemplo, escrever “sima” ao invés de “cima”.
Os erros ortoépicos, por sua vez, dizem respeito à ortoépia e consistem em desvios da norma padrão na pronúncia dos vocábulos. É como dizer “arvre” em vez de “árvore”. Esse tipo de erro, de pronúncia irregular, é chamado cacoépia.
Incorporação de cacoépias na língua
A língua está em constante evolução, e é papel da linguística captar essa evolução. As reformas e mudanças ortográficas têm o papel de atualizar as regras ortográficas e gramaticais com as mudanças que a língua sofre a todo momento. Nesse cenário, as normas padrões, prescritas pelas gramáticas, tentam conter ou ao menos refrear essas mudanças, que são inevitáveis.
Um dos exemplos mais clássicos de incorporação de cacoépias na língua portuguesa é o pronome “você”, que nada mais é que uma redução de “vossa mercê”. Com o passar dos anos, “vossa mercê” passou a “voss’mecê”, depois “vosmecê” e, por fim, a “você”. Mas, a evolução não parou aí: hoje em dia, é muito comum, no português falado, usar “ocê” ou “cê”. É bem provável que, daqui a alguns anos, o pronome passe a ter uma dessas duas formas como a ortograficamente correta.
Outro exemplo é a tendência, no português falado, como bem comenta Marcos Bagno no livro Nada na língua é por acaso (2007), geralmente atribuída erroneamente a apenas falantes socialmente desprestigiados (da zona rural, pobres, analfabetos), de transformar o L em R nos encontros consonantais, como falar “chicrete” em vez de “chiclete”.
Por mais que seja tratado como erro, e visto, como comentado, apenas como característica da fala de pessoas sem instrução e educação formal, várias palavras do latim, na passagem para o português, sofreram essa transformação, como “flaccu-“ que virou “fraco”.
Essas alterações, às vezes sutis, são as responsáveis por diferenciar e afastar línguas com origem comum, como francês, espanhol e português terem tantas diferenças, mesmo elas tendo se originado do latim.