Euclides da Cunha – 2 obras que você PRECISA conhecer!
Conheça aqui as 2 principais obras, que todos deveriam conhecer, do autor brasileiro Euclides da Cunha, autor do pré-modernismo brasileiro.
- Publicado: 30/05/2023
- Atualizado: 31/05/2023: 18 52
- Por: Lilian Reina Peres
Euclides da Cunha (1866-1909) foi um renomado autor de obras que se encaixam na era pré-modernista brasileira.
Escritor e jornalista, Cunha mesclou sua vivência como correspondente de guerra aos seus escritos literários, construindo uma literatura que narrou não só a realidade da guerra, mas que também construiu uma imagem dessa realidade através dos relatos por ele coletados, expondo assim a vida de povos negligenciados pelo estado.
Esse é o conceito que alguns estudiosos da literatura denominam como Brasil profundo, em referência às disparidades entre as vivências no interior do país e no litoral. Nesse sentido, Euclides da Cunha foi responsável por construir esse retrato com partes iguais de realismo e dramatização literária.
Por isso, é considerado um autor tão importante, pois auxiliou na construção discursiva da imagem que temos do Brasil. Vamos entender melhor, a seguir, como essas características se manifestam em algumas de suas principais obras.
Pré-modernismo
O pré-modernismo não é uma escola específica da literatura brasileira, mas um movimento de transição que marcou o início do século XX, com uma diversidade de produções.
As obras publicadas à época se caracterizam por aspectos que mesclam o realismo e o simbolismo com elementos que passariam a ser próprios do modernismo. Além do interesse por se retratar a realidade brasileira, em especial com o regionalismo, há também o uso de uma linguagem menos rebuscada e que se aproxima mais do coloquial.
Os principais nomes do pré-modernismo são Euclides da Cunha, Monteiro Lobato, Lima Barreto e Graça Aranha. Em comum, todos lidaram com os problemas da sociedade e teceram críticas, embora com posicionamentos bastante diferentes.
Os Sertões (1902)
Os Sertões: Campanha de Canudos é considerado o primeiro livro-reportagem brasileiro e narrou a Guerra de Canudos (1896-1897), que ocorreu no nordeste da Bahia.
Ao mesmo tempo que, objetivamente, retratou a realidade da época, construiu, aquilo que alguns estudiosos consideram uma epopeia da vida sertaneja. Isso porque descreve a vida dos indivíduos a partir de seus esforços diários e heroísmos diante do abandono da metrópole.
Apesar de jornalístico, o livro é muito descritivo, constituído por muitas figuras de linguagem e escolhas sintáticas que o tornam literário, ou seja, que dificultam uma leitura realmente objetiva dos fatos.
Por ter um posicionamento republicano, Euclides da Cunha foi enviado para reportar o movimento religioso de Antônio Conselheiro, que supostamente era contrário à República e defendia a volta da monarquia. No entanto, ao chegar no local, o jornalista viu uma realidade complexa e a promoção de um massacre da população pelos militares.
Altamente enviesado, contudo, o livro apresenta uma visão racialmente determinista, isto é, propõe a existência de uma raça superior, e relaciona essa superioridade à cor de pele branca.
Em diálogo com as teorias cientificistas do começo do século XX, o livro defende o embranquecimento da população brasileira para a melhoria do país, porém se opõe a miscigenação com raças ditas inferiores, como indígenas e negros.
Peru versus Bolívia (1907)
De forma similar a Os Sertões, Peru versus Bolívia é uma narrativa sobre guerra, contada a partir de uma viagem feito pelo autor. Trata-se de uma narrativa sobre o conflito que ocorreu na fronteira entre os dois países citados no título.
Nomeado pelo ministro das Relações Exteriores, o jornalista e diplomata Barão do Rio Branco, em 1905, o escritor passa a integrar uma comissão mista (brasileira e peruana) para reconhecimento das nascentes dos rios Juruá e Purus. Euclides da Cunha foi responsável pelo Relatório da Comissão Mista Brasileiro-Peruana de Reconhecimento do Alto Purus, publicado em 1906.
Esses rios vinham sendo alvo de conflitos entre os países fronteiriços na região em que atualmente se encontra o estado do Acre.
Em 1903, o Brasil comprou a parte do território correspondente ao Acre, porém, a Bolívia teria direito de tráfego na ferrovia que seria construída ali. Contudo, o governo boliviano tinha pretensões de instalar um protetorado dos Estados Unidos no local, o que afetaria negativamente os interesses brasileiros sobre o território.
Com isso, o Brasil se aliou ao Peru nas negociações e nos tratados contra a Bolívia. Somente em 1909 se encerraram as tratativas para definição das fronteiras.
Euclides da Cunha apresenta fatos científicos e relatos que coletou relacionados à realidade dessa fronteira, de forma parecida como fez em Os Sertões, construindo, assim, uma imagem dessa guerra para o público brasileiro literato da época, as elites.
Isso foi considerado um feito louvável para a época, pois a guerra discutida no livro envolvia também uma parte do território brasileiro. Por isso, a apresentação de sua perspectiva foi importante para que se construísse uma opinião pública acerca do tema.
Outras obras de Euclides da Cunha
Apesar de o autor ser reconhecido pelo livro-reportagem sobre a Guerra dos Canudos, ele também publicou outras obras e artigos sobre a realidade social brasileira, entre elas:
- A guerra do sertão (1899)
- As secas do Norte (1900)
- O Brasil no século XIX (1901)
- Civilização (1904)
- Contrastes e confrontos (1907) – artigos e ensaios compilados por um editor português
- Castro Alves e seu tempo (1907) – conferência proferida em São Paulo, no Centro Acadêmico XI de Agosto
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Referencias
OLIVEIRA, R. Euclides da Cunha, Os Sertões e a invenção de um Brasil profundo. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 22, nº 44, pp. 511-537 2002
LIMA, O. “Peru versus Bolívia”. In: EUCLIDESITE. Artigos. São Paulo, 2021. Disponível em: https://euclidesite.com.br/artigos/peru-versus-bolivia. Acesso. Reprod. de LIMA, Oliveira. “Peru versus Bolívia”. In: CUNHA, Euclides da. Peru versus Bolívia. 2. ed. Com dois mapas e um estudo de Oliveira Lima. Rio de Janeiro: José Olympio, 1939. pp. vii-xi. Publicado originalmente em O Estado de S. Paulo, ano 33, n. 10.570, 16 nov. 1907, p. 1.